eu lia enquanto ele passava um café na cozinha.
sentada numa cadeira posta na varanda, um pouco de sol aquecia a pele e, quando olhei para dentro da casa o olhar ofuscava em branco teu escuro interior.
ouvia os movimentos dele pela cozinha e me distraía em completa harmonia,
por ter companhia,
nesta manhã.
escuto o som côncavo de uma mordida
fecho os olhos
na intenção de conseguir enxergar melhor daqui há alguns segundos, quando abri-los novamente.
esqueço um pouco do tempo
respiro
e escuto
na mesmíssima tranquilidade
de quem espera o sol nascer.
surpreendo-me com um beijo roubado
lábio gelado e aroma de maçã
um ritual que deveria existir em todo café da manhã
ele se afasta mas o puxo de volta
como quem vai lamber o prato, depois de comer - um último resquício, para minha alma decorar este prazer
(alguma poesia há de nascer).
o beijo agora com toda minha língua
me satisfaz pescar o sabor fresco da fruta na boca tua.
ele se senta na outra cadeira, de frente pra mim
apoio meus pés no seu colo
ele encosta em um deles
a gente se olha
na mesmíssima tranquilidade
de quem espera acontecer.

ele morde novamente a maçã
uma gota de suco escorre no canto da boca
assisto um tanto obcecada, e no mesmo ímpeto de um vampiro mirando uma gota de sangue quente, eu deliro com a possibilidade de sentir na língua o frescor do suco da tua maçã
mais uma mordida
o som dos dentes arrancando um pedaço suculento
a tua mão grande faz o fruto parecer pequeno
você já entendeu
onde eu parei - meu olhar não sustenta um disfarce; me deu vontade; você sabe de quê.
e morde agora exagerando na abertura da boca - um tanto sorrindo
você aperta um pouco meu pé com a outra mão
gostoso demais
levanta o pé na altura da boca
beija a sola
(eu adoro quando você faz isso)
sobe para os dedos
enfia cada um deles na boca
pega a maçã e passeia a carne branca na superfície do pé até chegar no tornozelo e desenha o mesmo caminho com a língua, logo depois
tesão
escorro da minha cadeira para teu colo
me dirijo direto no canto onde escorreu aquela gota
e chupo como se fosse o último copo de água num deserto
beijo sua boca lascivamente
dentes afiados, alucinados, doidos para arrancar um pedaço teu
você me tira de dentro da sua boca e pousa a maçã nela
e penso que talvez o mundo tenha de fato nascido assim - um homem, uma mulher, uma maçã, tamanha vontade de morrer do pecado.
você arrasta a maçã pelo meu pescoço
desce junto com a alça da camisola
me chupa os peitos
te agarro os cabelos
encontro tua boca
você me levanta um pouco
coloca o pau dentro
me lambe a orelha
me entrego inteira
me esfrego ligeira até o clitóris pedir pra parar
e quando pede
não paro
que essa sede vai demorar para acabar.
não desgrudo nem por um minuto a boca de você, que me olha confuso e animado
segura meu cabelo
com a mesma força que eu luto para tentar te beijar de novo
tu me priva da sua boca
eu vou ficando louca
e quando percebe que vou gozar
me beija sem parar
e dessa vez meu gemido quase não teve som,
um zunido
que só nossas línguas saberiam dizer
nós paramos com as testas encostadas
buceta toda gozada
e meu rosto tão vermelho quanto à maçã e o desejo.








