a última vez foi há dez anos atrás
dez anos
imagine que há dez anos éramos outras pessoas e nossos corpos, também outros
ele serve a última taça – cambaleando, olhando fundo, olhos obscenamente verdes
ao final dessa última taça veio o sofá e o filme e ele tocou nos meus pés
enquanto massageia
dissolvo no sofá
líquida
o sexo começa antes de começar - este toque no meu pé é tão lascivo ou mais do que os movimentos mais óbvios
“troca de lado, deita a cabeça aqui no meu colo”
eu sou desobediente o tempo inteiro desde que existo nesse mundo e agora, um fiasco de tão obediente,
risível desejo que me faz trocar os pés pelas mãos
literalmente
cabeça posta na tuas pernas
como uma refeição,
te aguardo
olhando pra tela sem ver o filme
faz carinho no meu cabelo com a mão direita hora fraco, hora forte
me arrepia
a mão esquerda me abraça e encontra minha mão encolhida que apoia meu queixo
por um segundo me lembro de que já ficamos assim, nessa posição, em algum momento
fragmentos de nós dois bem jovens aparecem em todo lugar dessa sala, agora
sua mão está muito perto do meu lábio
eu beijo sua mão
seu carinho toma um formato mais hostil e eu respondo esfregando bem devagarzinho seu dedo na minha boca
agora você puxa meu cabelo
e a gente fica nessa dança-disputa onde um quer o melhor contra golpe do outro
enfio seu dedo inteiro na boca e passo a língua da base à ponta
você me vira e agora de barriga pra cima, te olho
você me olha do alto e nossas bocas parecem longe demais pra se enroscar
você ri
como quem compreende o trajeto que vai nos levar a outro lugar daqui a pouco
levanta-se e vem deitar bem em cima de mim
antes mesmo de me beijar
impulsiona seu corpo sobre o meu e sinto seu pau
rígido
sua boca está chegando perto e eu te prendo entre as duas palmas
“deixa eu te ver” – e a gente se olha
eu vejo esses cabelos precocemente grisalhos e gosto.
te cai tão bem
você está tão bonito
a gente se beija. finalmente.
são muitos os beijos e é muita a vontade de tirar a roupa
mas ainda não sei se devemos
“não me lembrava do seu beijo”. “nem eu”.
“foi meio esquisito quando transamos”. “foi”.
“você tá com cara de safado”. “eu aprendi coisas novas de lá pra cá”.
eu beijei tanto a boca dele que seu queixo estava com uma vermelhidão pulsante que me deixou mais excitada
ele se senta e eu sento em cima dele
beijos molhados
línguas quentes
olhares indecentes
eu coloco as mãos de novo no seu rosto – eu te acho realmente bonito demais
enfio o dedo na sua boca e você chupa
com a outra mão pressiono sua bochecha
queria dar um tapa, mas não sei se você gosta
você percebe a hesitação e fala mordendo o lábio “bate”
eu mordo sua boca
você puxa meu cabelo até que eu solte os dentes
olhando pra mim de um jeito diferente “eu mandei você bater”
senti a buceta contrair com a vontade feroz de te obedecer e, quando vou bater na sua cara você segura minha mão e começa me beijar o pescoço
e descendo
até chegar no primeiro botão da camisa, abre um a um
enquanto eu respiro fundo puxando o ar e o desejo do mesmo lugar
alguns gemidos
você não consegue abrir meu sutiã
me levanto e em pé na sua frente tiro a roupa sem desviar os olhos dos seus
a nudez me deixa desconfortável mas me mantenho sustentando um peso maior que a carne, honrando o corpo que é meu e suas honestas imperfeições
tem algo que fica além do corpo, do toque, do olhar, algo que fica entre os dois corpos
entre a mesa de centro e o sofá
a luz da tv deixa a sala num tom azulado que intensifica seu olhar colorido e reflete meu corpo, nú - posto ali pra de fato ser olhado
esse é meu fetiche, talvez o maior
e quando me ponho à frente completamente despida, existe um poder que não sei dizer – quando eu sinto essa fome tudo ao redor desenha comilança.
você desencosta do sofá e coloca uma mão na minha cintura, e andando devagar com ela toca no umbigo – só de passagem com o dedo médio e chega à outra cintura
“vira”
quando viro você continua o passeio delicado nas minhas costas
desce um pouco pra tocar minha bunda
“que bunda gostosa”
aperta
sinto você se aproximar porque o calor denuncia sua chegada
você morde uma das nádegas e depois a outra
“vira”
eu pego sua mão e coloco de novo na cintura pedindo pra continuar a pintar meu corpo em tons quentes
sua mão agora sobe pelo meio dos peitos se fecha no meu pescoço enquanto a outra mão se encaixa no meio das pernas
“toda molhada”
a mão abandona o fluido e flui para as coxas passando a mão como se eu fosse de argila esculpindo meu corpo no meu corpo como quem cozinha a própria comida
“estou excitada”
você me direciona à mesa de centro: “senta aqui e se masturba pra mim”
ele se senta no sofá e espera esse outro filme começar
abro bem as pernas
olha minha buceta, olha
toco meus dedos nos lábios, pra cima e pra baixo
abro os lábios pra ele ver dentro – hoje minha nudez está além da própria nudez
vejo ele tocar o pau
enfio o dedo na buceta e provoco “eu tô louca pra dar pra você”
ele vem de joelhos, faminto, e chupa minha buceta
a língua na buceta, os olhos verdes em mim, a água em sua boca
meu corpo vai relaxando e afrouxo os braços que estavam apoiados na mesa, ficando completamente solta e a cabeça vê a tela da tv ao contrário
fecho os olhos
a língua dele tenta encontrar os lugares que me fazem gozar
ele começa lamber mais rápido
mais fundo
mais rigidez na ponta da língua
ele alcança um ponto específico que me arranca um gemido mais alto e isso o faz querer não abandonar este ponto
agora ele gira a língua e minhas pernas começam a tremer
“não para”
ele penetra um dedo enquanto continua girar a língua
girar o clitóris
girar o dedo dentro da vagina
internamente tudo em mim gira, grita – às vezes quero gritar quando perto de gozar
“isso chupa minha buceta, chupa” e ao falar começo habitar aquele lugar que fica entre a realidade e o gozo: intangível
fico alguns minutos completamente incapaz de me mexer e você ainda me lambe
vai parando devagar
desenrosca o pescoço preso nas minhas coxas
abro os olhos e vejo sua cara toda molhada – gosto demais desse retrato
sento na mesa de centro e você me passa um copo de água, que bebo num gole só
vejo você de ainda de roupa e te peço pra tirar
me ajoelho no chão, debruço-me na mesa de centro e de quatro te olho
“vem me comer gostoso”
você começa andar pela casa até aparecer novamente com uma camisinha em mãos e, ainda bem que alguém aqui lembrou
você ajoelha atrás de mim
bate na minha bunda, aperta, abre
lambe mais
“eu vou te comer devagarzinho, estou quase gozando”
enfia o pau devagar quase parando
cola o corpo todinho contra o meu e apoia a boca no meu ombro, entra e sai bem lentamente ouço seu gemido baixo
seu pau misturando as águas nossas neste vai e vem encharcado
você para com o pau dentro e fala “quase”, imóvel
está gostoso assim, pra mim, perfeito
fala no meu ouvido “buceta gostosa”
contraio e solto a buceta, também devagar
agora você gemeu alto e eu gostei
“ai caralho, queria meter forte”
“mete forte, depois você me come de novo”
ele tira o pau devagar e respira fundo
roça a cabeça na entrada da buceta e eu provoco
“mete vai, mete o pau em mim”
faço um biquinho proposital e peço de novo
“mete com força, vem”
ele vem
com força
enrosca a mão nos cabelos próximos à nuca e puxa forte enquanto me fode forte
a outra mão na cintura
contraio de novo a buceta agora também mais forte
percebo que ele vai gozar porque a força descontrolou um pouco e parece que ele vai arrancar minha cintura do lugar
eu gemo
ele geme
sonoramente gostoso de ouvir
o corpo agora fraco caído sobre o meu, tira o pau de dentro, e esse movimento – da passagem – me dá tesão de novo
“estou pesado?”
“sim. mas eu gosto”
ele vai escorregando para o chão e me convida pra deitar com ele
a gente se ajeita numa concha no chão da sala azulada
ele dormiu rapidamente, eu tentava imaginar a visão a partir do lustre – é o tipo de imagem que queria ter de recordação
em algum momento, também dormi.