no fundo da fábrica um olhar me atravessa
não quero te atrapalhar
aqui é seu trabalho mas eu queria ficar aqui, com você
perguntar quem é você
o que você faz
onde esteve até chegar aqui
eu sei aconteceu muita coisa
comigo, você nem imagina
mas eu te conto
tem tempo? eu tenho
pensei em você
nós dois dançando a flor de tangerina de corpo colado
a gente conversa baixinho
boca colada no ouvido
fiquei molhada com o convite
eu não sei dançar
mas eu sei colar o corpo cheirar o cangote e beijar molhado
me chama
o forró é erótico
tudo é um pouco erótico
pra mim
a gente dança
o corpo esquenta
a pele pede
você roça o nariz na minha orelha
um arrepio se põe na coluna
uma fruta cai do pé e o suco se espalha no chão
quero ficar a sós contigo
morder sua boca
molhar sua mão
você me convida pra ficar
fico
outro gin
a gente conversa com poucas palavras e muitas mãos
você coloca a música
e cola de novo teu umbigo no meu
me ensina alguns passos
um cheiro no pescoço que desce em curva sinuosa até o meio dos seios – onde beija
eu gosto dessa coreografia
agora a boca sobe apressada e beija minha boca como se fosse um dos gomos do fruto caído no chão
o suco se espalha no meu queixo no seu queixo
Eu poderia ser sommelier de pão de queijo ou algo tipo Marie Kondo. Mas a palavra é meu lugar, então escrevo: redatora, copywriter, roteirista e canhota.
Coloco ideias no papel e as tiro de lá com muita facilidade: fui produtora por doze anos, fazer acontecer é comigo mesma. Cinema, teatro, shows, eventos e entre um e outro tirava o caderninho da bolsa e me debruçava na poesia e nos contos eróticos – agora me concentro em saber tudo o que não sei para esse blog funcionar.
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