é quase uma carta de instruções
não que você precise delas,
mas porque me excita imaginá-lo lendo enquanto me imaginas - como se nesta fresta, tivesse eu algum controle do que existe aqui (por entre),
você sabe o que eu quero dizer, pois entre:
essa carta é pra você e este conto é para ninguém - um delírio que jogo ao acaso.
numa oração pecaminosa, te confesso meus anseios.
te descrevo meus (íntimos) desejos.
te narro em frames possíveis, cortes passíveis de cinema - talvez um filme longo que se movimenta rápido como essas imagens na minha cabeça e, mudo - os sons eu deixo pra você.
meus olhos vendados com um lenço preto
você explora meu corpo com o descanso de quem não é visto
minhas mãos tentam descobrir o que virá tateando o ar e você as segura, talvez eu descubra
que naquele momento
sou toda sua
de quatro com os joelhos no sofá e o tronco apoiado no encosto
você me fode com gosto
com força
se esbalda na buceta molhada e quente que te dou indecente
incandescente te falo que está gostoso
que quero teu gozo
até você me dar
sentada na sua cara
me excita teu nariz vermelho
sentir teu rosto no meio das minhas pernas
a parte interna da coxa transa em atrito com os pelos da barba melada
olhar de tarado, apropriado - eu posso gozar só da tua pupila me achar
esfrego a buceta na sua boca
num movimento que mais parece com raiva
me excita a fúria
esfrego mais
quero te machucar
na esperança de você revidar
me tira de cima de você
sobe em cima de mim
me come com violência para se vingar
deixa eu ver tua ira
é assim que penso na intimidade: poder te falar das mais absurdas vontades.
eu não tenho mais idade pra me camuflar.
trago sua voz à superfície de uma das minhas imagens favoritas: tua língua subindo pela coxa
e enquanto te escuto com a potência desonesta da minha criação, percebo tua voz num tom tão doce quanto o som da saliva aguando minha pele
se às vezes te desejo furioso, outras tantas, desejo-te água doce
cachoeira
olhar licoroso
toque amoroso
corpo em corredeira
estou sempre à beira de falar,
quero acordar com você.
se te pareço romântica, desfruta.
depois enxergue também a outra parte - meu corpo late
arde
a luxúria me invade, trepo covarde até o dia amanhecer
me esqueço de você
qualquer homem pode me convencer
de fuder numa quinta à tarde,
sem muito alarde,
amanhã eu ainda vou te querer.
se te pareço confusa, desculpa.
depois enxergue também a outra parte - meu corpo sabe que cabe em você.









