enquanto ela fala sobre as coisas todas – o café da manhã, os pássaros, seu gosto apurado pela vida cotidiana, um livro, as estações do metrô abertas que permitem assistir o céu correr azul pelas janelas, as pessoas, as pessoas que tem pra si no mundo, as histórias – eu escuto como se estivesse longe. Assisto as palavras simples lhe saltarem à boca de um jeito complexo: tudo que diz está envolto em mistério e delírio. Me atrai. Mas não consigo acompanhar a rapidez de sua articulação, muito menos a ligeireza de seus olhos virando esquinas – ela nunca me olha.
pergunto por que. e agora me encara quieta como se te fugisse a fala.
“porque você me olha com desejo.”
agora é de mim que as palavras fogem – eu desejo.
diverte-se às custas de meu desconforto, como se soubesse exatamente o que penso e sorrindo me diz: “eu acho que você fantasia transar comigo.”
todas as palavras que diz são obscenas em alguma medida, tem a ver com um olhar condensado que sugere a libido sempre à margem.
eu fantasio, de fato. Sua resposta objetiva abre-se em possibilidades: ela também fantasia?
me sinto um tanto bobo por não saber como conduzir esse diálogo enquanto ela parece absolutamente tranquila.
“me diz, como sou na sua fantasia?”
ela fala parando e se encostando na parede, agora concentrada no que vou dizer. Ela me deixa um pouco desconcertado com essa naturalidade. E excitado. Por um momento pensei em agarrar seu rosto com a mão
e enfiar a língua naquela boca que parece sempre pronta – mas é cedo ainda. Ela se interessaria mais pelo jogo falado, acho.
“não há uma fantasia”. Minto covardemente e ela ignora.
“você fica me imaginando deitada na cama, roçando em travesseiros? Ou você se excita imaginando como é meu corpo sem roupa? Ou, menos delicado, pensa em enfiar o pau inteiro na minha boca até eu engasgar? Rs”
na primeira pergunta meu pau já começava endurecer, na última eu perdi um pouco a noção se ela tinha verbalizado isso mesmo.
“estou te deixando constrangido?”
“um pouco”
“eu queria te deixar excitado”
“deixou”
“hmm, com qual das opções?”
“enfiar o pau na sua boca até você engasgar”
“interessante”
ela para por aqui. eu confuso e de pau duro.
“e como continua?” pergunto, na tentativa de também deixá-la excitada.
“a fantasia é sua, você quem deveria me dizer”
“eu não fantasi..rs, quer saber? Eu tô de pau duro, só consigo imaginar uma situação onde eu mando você abrir a boca. Nas minhas fantasias, eu te como até você cansar”
“manda”
“o que?”
“me manda abrir a boca”
Ela é muito melhor do que eu nesse jogo. Safada.
Ela abre um pouco a boca, levemente entreaberta, e me fita com os olhos indecentes.
“eu não vou fazer isso aqui, na rua”
“rs, eu não vou te chupar, só estou aumentando seu repertório imagético”. Ela pega minha mão e leva até o rosto dela, fecha os olhos e esfrega a bochecha na palma. Abre os olhos e a boca simultaneamente, abocanha o polegar e dá só uma chupada. Puxa o dedo pra fora deslizando para baixo lentamente, o rastro de saliva fica no queixo, o lábio inferior rosado e úmido. Ela sabe exatamente o que fazer. Devolve minha mão onde estava, esboça um sorriso de canto e: “bate uma punhetinha bem gostosa pra mim hoje, bate”.
E sai andando. E vai embora.
Fecho o paletó tentando disfarçar um vestígio do meu desejo estampado na calça, mas o caminho inteiro penso nela e ainda sinto sua língua no meu dedo.
Eu penso em mandar mensagem, em ligar, em convidar para sair, qualquer coisa, eu quero comer essa mulher.
Chego em casa, desabotoo a camisa, botão por botão enquanto repasso a cena com a memória atenta aos detalhes. Me dispo pensando o quanto queria vê-la assim, tirando a roupa. Sento na cadeira do computador, apoio os pés na escrivaninha e me dedico a imaginá-la pelada, deitada na minha cama.
Começo pelos pés e os vejo roçando devagar no lençol, subindo e descendo os joelhos, franzindo o tecido.
subo os olhos e assisto o formato das coxas e dessa vez ela sobe o joelho e no mesmo movimento vira-se de barriga para baixo e levanta os pés
a bunda, ali, exposta
um tesão agressivo toma conta de mim: apertar, morder, bater, chupar, eu quero tanto foder essa bunda.
meu pau está duro
evito tocá-lo pra não gozar antes
na minha imaginação ela é gostosa demais
desenho ainda, posta no meu colchão, ela virando-se novamente para cima e tocando os seios.
os seios: eu penso na textura do mamilo na minha boca, penso neles molhados com minha saliva e ela gemendo pra mim e pedindo “me fode”.
eu não resisto a esta cena que montei e toco meu pau.
me lembro novamente de mais cedo, quando ela chupou meu dedo e agora imagino ela sentada na cama
de pernas abertas
pra eu olhar sua buceta
e eu olho
e penso como será o gosto
me sinto um tanto ridículo aqui, batendo punheta por ordem dela
manipuladora
deliciosamente manipuladora
me levanto, como se fosse em direção à ela – ainda sentada, na beira da cama.
gosto de pensar nela me olhando assim, debaixo para cima
repito novamente a cena do dedo, mas agora do meu jeito: eu toco sua bochecha com alguma força, com o polegar o indicador eu aperto seu lábio, e esfrego um pouco a mão. “abre a boca” eu mando.
ela abre com aquela mesma cara de antes: indecente.
enfio o polegar e faço um movimento menos delicado, como se te fodesse a boca
escorrego a mão e ainda vejo o rastro de saliva no queixo, agora, cravado na memória
toco seu mamilo com os dois dedos molhados e aperto, ela contrai um pouco a boca e geme baixinho.
eu quero gozar na boca dela
seguro seu queixo com uma mão e com a outra esfolo meu pau com intensidade, bem próximo do seu rosto.
Desejo enlouquecidamente que ela me diga “minha buceta tá molhada” e penso nisso quase gozando. Querendo ser o controlador – sabendo que absolutamente é ela quem está controlando – me imagino recusando comê-la e, mando de novo, abrir a boca.
vou chegando mais perto do seu rosto e roçando o pau no seu rosto.
olho o conjunto: a vermelhidão no rosto, os peitos nus, as pernas abertas, a buceta molhada – e gozo no lençol, pensando ter gozado na cara.