enquanto ele toma banho
imagino os caminhos que suas mãos e as águas trançam e desenham na pele
penso nas duas mãos levando água no rosto e deslizando pelos olhos, testa, cabelos
me pergunto
se enquanto a água cai, ele pensa em mim.
do alto da minha imaginação, eu mal posso esperar que saia do banho,
tão úmido
quanto minha buceta, neste momento
ainda do alto da minha imaginação,
ele fica charmoso com os cabelos para trás e, depois, ainda mais bonito com os fios batidos na toalha e ainda gotejantes.
fico ligeiramente com tesão.

passeio um olhar atento e vazio ao redor: a mesa de centro, o vaso de planta, os tacos de madeira do piso, a janela
e fora da janela, um dia cinza e molhado me encara de volta.
um pouco de tédio.
volto ao livro.
uma frase parece saltar da página porque me chama a atenção - "alguns pressentem a chuva; outros contentam-se em molhar-se"
henry miller.
volto à janela.
volto à chuva.
respiro fundo.
queria
também
molhar-me.
queria, sobretudo, estar no mesmo banho
dividir com a água os caminhos da sua pele
eu quase posso sentir o ar quente
daqui
da minha sala
e imagino as gotas escorrendo pelo vidro do box
e como se o vapor também me aquecesse, sinto as gotas escorrendo buceta abaixo

desisto do livro e volto ao repertório de imagens recém proporcionadas - teu banho
me concentro em imaginar o rastro de gotas carimbando o caminho do banheiro até a cama
na cama, meu olhar quer ver as gotas marcando o lençol
ainda na cama, meu olhar quer ver uma gota escorrer pelas costas como um convite despudorado para o toque
ainda na cama, eu quero imaginar quando você pousar a cabeça no travesseiro e molhar a fronha
como se cada vestígio do seu banho
molhasse também
à mim

penso na extensão do seu corpo deitado
o lençol branco
o cheiro de sabonete na pele
a textura da pele
os pelos
abro um pouco as minhas pernas e deslizo uma das mãos no grelo - é só para pensar melhor.
imagino como seria se a poltrona que sento, estivesse na verdade, dentro do mesmo espaço onde você está
e te conto, agora, o que eu ia fazer.

com as pernas abertas e a mão na buceta
eu ia mexer os dedos com devido afinco
luxuriosa.
você senta, como se fosse levantar
mas antes que venha
eu me levanto
vou até a cama
toco suas costas
você encaixa o nariz no meio dos seios
puxa meu cheiro pra si enquanto arrasto as gotas no sentido contrário ao natural - debaixo pra cima
com as duas mãos, ensaio uma massagem
aperto seus ombros
aperto sua pele
aproximo o rosto da sua nuca
pra sentir teu cheiro
cheia de tesão,
volto à poltrona
você me olha
antes de me sentar de novo na poltrona
tiro a calcinha
agora sim
eu sento
de frente pra você
e permaneço te olhando - agora com seu cheiro em mente
agora mais molhada
você desenrola a toalha e fica completamente nú
eu olho seu corpo mas fixo os olhos nos seus olhos - que é onde nasce o desejo
você toca o pau e me pede pra tirar a blusa
eu tiro

assisto você se masturbar
falo que estou com vontade de chupar você
e enfio os dedos dentro da vagina
te excita
você bate mais rápido e franze um pouco o cenho
o cenho franzido
o maxilar um pouco travado
e o pau duro
me deixam com vontade de sentir o gosto da sua pele
o peso da sua mão
o peso da sua língua
abro mais as pernas
e te peço
pra vir me chupar

você começa beijando a parte interna da coxa
com língua
saliva
pressão
sucção
e sobe até chegar onde queremos

molho sua boca
sua barba, seu queixo
até seu nariz
e você não para
sem pressa
língua no clitóris
um dedo na buceta
outro dedo no cu
e eu deliro
até gozar

a gente levanta
e eu te empurro até a cama
me aproximo da ponta da cama e toco seus pés
demoro um pouco
vou subindo as mãos em direção as pernas num movimento que me obriga a subir também na cama
agora os joelhos tocam o colchão e as mãos sentem o calor úmido que verte dos pelos
de quatro entre as suas pernas
aproximo minha boca do seu pau enquanto você bate uma punheta
com os olhos cheios de tesão, você me assiste
devagar, toco com a língua, só a cabeça
deslizo a língua até encostar na sua mão, que ainda bate
você pressiona o pau no meu rosto
seguro seu punho pra você parar de bater - é que agora eu quem quero fazer isso.
passo a palma da sua mão no meu rosto
coloco dois dos seus dedos dentro da minha boca
pensando que eu queria que eles estivessem na buceta.
à essa altura, imaginar parece pouco
me desespera o desejo de consumir cada pedaço teu não só em pensamento
me deito na cama, me esfrego nos travesseiros
e em vão
tento sentir metade do que imagino que sentiria.
salivo
me toco
me angustia chegar sozinha no prazer que não pensei só
então espero.
procuro onde parei, minha língua tocava seus dedos
você me puxa pelos cabelos e coloca logo o pau na minha boca
com força
eu te olho enquanto sinto teu sexo atravessar-me a garganta
e gosto
da cara que você faz - tu fode minha boca com o ímpeto animalesco que me interessa
algo me diz
que a selvageria
nem começou,
quando sinto teu gozo encher a boca
escorrer pelos cantos
lançar-se ao pescoço
e você ainda não para
entra e sai no mesmo lugar de onde me nascem as palavras sórdidas que engulo junto com teu orgasmo.
sozinha pensando teu gozo, gozo.
yesterday's still leaking through the roof

ilustrações do maravilhoso e incandescente: @pulpbrother







