"é ficção?"
"todas as histórias são verídicas?"
"se eu te contar minha história, você escreve?"
"seu trabalho é transar?" 

 já faz tempo que queria escrever sobre o processo criativo dos contos, cola em mim, que eu vou te contar.

hoje eu vou falar 

os contos nasceram de onde nem eu mesma compreendia direito. havia uma necessidade, quando adolescente, de escrever. primeiro porque o erótico sempre me atraiu - eu acho belo.
acho que sexo é lindo, em sua mais pura natureza: da reprodução à luxuria, cada detalhe, pra mim, sempre foi sobre beleza.
corpos são belos, a nudez é linda e não vulgar. a vulgaridade é algo social e não humano.

a verdade é que comecei a escrever poesias eróticas muito antes de ler o que já existia por aí. não havia ainda consumido nenhum tipo de leitura desse gênero quando dei espaço para a necessidade que eu tinha de escrever, em parte por não saber que existia (como tudo que envolve sexo-sexualidade-desejo é tratado como tabu, o acesso a este tipo de conteúdo fica bastante restrito) e em parte porque não imaginava que viria a escrever profissionalmente um dia.
a vontade de consumir erotismo à fim de vivenciar a minha sexualidade de acordo com o que sentia e a não identificação com a pornografia, me encaminharam para o campo da imaginação. como diria minha amiga Naiade em um de seus escritos: “escrevo porque escrevo, escrevo pra escrever em si, escrevo quando não escrevo, escrevo.”

este blog foi lançado em fevereiro deste ano, 2022. de lá pra cá, crescemos juntos. aos poucos fui entendendo o que as pessoas gostam mais de ler mas sem deixar de lado o que acho bonito enquanto criação, enquanto projeto artístico. há, sobretudo, de ter delicadeza - um traço que está presente de alguma maneira em todos os contos, seja na forma ou no conteúdo. 
de lá pra cá, muitas perguntas também, algumas que ainda não tenho resposta, mas lhes garanto, que eu busco.

outras tantas, eu posso responder:

não, meu trabalho não é transar. mas eu penso o sexo, leio sobre sexo, ouço o que as pessoas entendem como sexo, assisto filmes, leio. e a partir das referências, meu repertório imagético alimenta-se e quando satisfeito, nasce um conto. ou dois - o que já responde outra pergunta: nem sempre é tudo verdade. bebo muito da imaginação, meu trabalho é mais sobre construir uma transa em mente do que transar - o que me leva a outra resposta: às vezes é sim real, se é isso que lhe interessa. mas mesmo dentro do que é fato, há também ilusão.


posto isso, vou te contar sobre os

estímulos

eu vejo uma imagem e ela sozinha pode se tornar o próximo conto. eu ouço uma música e ela pode ser o tom de uma transa - e olha que existe uma infinidade de imagens e músicas, então, a minha fonte é inesgotável.

  

eu tenho várias pastas no Pinterest, que eu salvo imagens aleatoriamente quando algo me prende o olhar. é engraçado que quando estou buscando imagens, muitas vezes as ideias já começam a se apresentar, sem que eu faça qualquer esforço. anoto alguns esboços do que pode vir a ser e deixo lá marinando, como se precisasse de uma gestação própria até ganhar vida.

músicas não são só um estímulo importante - se vocês não perceberam, praticamente todos eles levam o nome de alguma música. às vezes eu repito a mesma música tantas vezes, sem parar, até que eu termine o conto, pra não escapar, do tom que eu quero. se liga:
fogueira doce carrega o nome de uma música do Mateus Aleluia e escolhi porque este nome é bonito demais. bem como a música
cigarrets after sex chega a ser óbvia demais para o meu gosto, mas construí este conto num looping eterno deste álbum. foi um conto que demorei para fazer porque queria que fosse algo bem subjetivo mesmo. este som me inspirou em vários outros, um vício inerente.
flor de tangerina do igualmente luxurioso Alceu Valença - vale uma matéria só sobre as letras molhadas que ele canta. 
o queridinho, o mais acessado, o conto quando ele cai do sofá, so far away veio de Leoni.

tudo é um pouco erótico

importante dizer que a escolha de músicas é completamente aleatória mesmo. a do Leoni por exemplo, tocou quando eu estava no uber e eu falei - pô, tem tudo a ver com o conto que comecei ontem. e por aí vai, estímulos em toda parte. inclusive, alguns menos óbvios do que músicas, imagens e filmes: teve conto que nasceu de uma sensação. teve conto que nasceu numa degustação de vinho explorando as papilas gustativas e em algum lugar de mim conexões foram instantaneamente estabelecidas - é que também já há um modus operandi.
exemplos de imagens que não tem nada de sexual mas me despertam algo que possa ser interessante para um conto:

como você descreveria a sensação de joaninhas caminhando na sua pele? 
eu poderia descrever isso num conto sem sequer mencionar as joaninhas, rs.

e se você já cheirou uma flor, de perto, afundando as narina nas pétalas, como isso poderia ser dito se fosse sobre afundar o nariz num clitóris?

essa aqui, tem algo nela, que pode ser muitas coisas. posso fantasiar a escada, o corredor, uma masturbação prestes a começar ou o será que depois de gozar? qual a sensação do piso nas pernas?
viver é por si só, um estímulo e eu vivo deles, caçando por toda parte, qualquer coisa, que dentro de mim vire inspiração e das mãos saia poesia.

  

não é tão fácil quanto parece,

existem obstáculos

o acervo do Pinterest é também um problema: tem muito mais foto de mulheres magras e brancas do que qualquer outro corpo: mulheres gordas? poucas. mulheres negras? cadê? homens? menos ainda. homens nús? se achar me manda. homens gordos? homens negros nús? 
eu queria que o blog fosse muito mais diverso. sinto uma dificuldade absurda de encontrar esses corpos.

  

além da questão das imagens, a questão da sexualidade - como escrever com propriedade uma transa entre dois homens?
ainda que eu possa me esbaldar dentro da imaginação, receio ser um desserviço para qualquer causa. receio um cancelamento, uma cobrança, ou algo do tipo. convido pessoas para alimentar o blog à fim de trazer esta fala, este olhar para cá, mas até agora, houveram muitas recusas.
enquanto isso, limito-me ao que consigo. embora eu tenha escrito coisas que nascem do meu desejo mas ainda não senti de publicar. 

por falar em desejo,

nem sempre tenho. 
às vezes minha libido tá no chão, aliás, já leu essa matéria sobre libido? às vezes minha auto estima nem existe e sexo é também todas essas coisas.
escrever sem essa matéria prima é como comer sem apetite - essa é a dificuldade de profissionalizar algo, quando era só pra mim, era no meu tempo. agora existem prazos. existem pessoas procurando pelos contos no dia em que ele vai sair.
a dor e a delícia sempre caminham juntas. acho.

caro leitor,

eu te peço paciência. estou aprendendo essa bagaça também.
aceito imagens, aceito músicas, aceito histórias, aceito contos, aceito experiências, aceito partilhas.
vamos juntes?
me escreva.
te espero.

   

Exclusiva Sex Shop: o prazer é todo seu!

Nem só de contos vive esse blog! Tem produto também! Na categoria modo de usar sempre trago produtos de sex shop, modelos de brinquedos sexuais, reviews de sextoys! Tem vibrador, tem novidades, tem dicas, tem até posições sexuais :)

Escrito por :

Cinthia Morelatto

Cinthia Morelatto
Eu poderia ser sommelier de pão de queijo ou algo tipo Marie Kondo. Mas a palavra é meu lugar, então escrevo: redatora, copywriter, roteirista e canhota. Coloco ideias no papel e as tiro de lá com muita facilidade: fui produtora por doze anos, fazer acontecer é comigo mesma. Cinema, teatro, shows, eventos e entre um e outro tirava o caderninho da bolsa e me debruçava na poesia e nos contos eróticos – agora me concentro em saber tudo o que não sei para esse blog funcionar.