sentada na mesa, escrevo
escrevo as luxúrias que penso,
palavra por palavra
folha por folha
excita-me tornar tangível tudo aquilo, isso, que é muito interno
um vento forte bate e arrasta as folhas
na sala, agora, a qualquer momento, os contos, eróticos contos, cairão sobre mim
sobre os tacos
sobre as plantas
e os livros
velhos
e as roupas
que estão quarando no sol, desde cedo.
há de molhar a casa
cada uma dessas palavras
que me escorrem
das pernas
deixo que caiam
resta uma folha na mesa
bem na minha frente
leio
em voz alta
como se narrasse ao móveis outra história de entrega
me encosto na cadeira
na buceta, um leve tremor, lembra de quão viva me fazem as poesias vulgares que escrevo
e que leio
em voz alta
também para as pessoas
às vezes.
me toco enquanto entono a voz para luzir os verbos
esfrego um pouco no estofado da cadeira e um gemidinho me escapa
continuo lendo e agora o imagino aqui
sentado
me assistindo ler
de pau duro
recito aqui, o privilégio do mobiliário - que assiste o que são os contos quando vestidos no meu corpo e no meu espaço
"ali na minha cintura tem uma mão,
na nuca tem a de outro alguém
no meu nariz, o cheiro de outro que nunca se foi
nas ancas
aquele que me comeu com absoluto desejo
minha pele tem marcas
e rastros
de todos com quem trepei
eu gosto, me mostro, assim - tem muita história aqui, sabe,
eu bem que vivi
debaixo dos meus cabelos, segredos, de todos que pousaram a língua ali
entre meus dedos, muito desejo, de todos que cruzaram as mãos ali
no queixo, lembrança de rios que correram ali junto aos homens que chupei
na boca,
folheio lábios que beijei,
bucetas que lambi,
mamilos que mordi,
gozadas que engoli,
tapas que pedi,
ainda há polegares enfiados ali
na buceta,
todos os paus que quis
línguas e dedos
homens e mulheres
e tudo o que quiseram de mim.
agora aproximo uma lupa: para que você veja mais perto, as memórias que mais interessam dentro deste contexto de puta
ah sim, nos meus ouvidos
puta, piranha, putinha, cachorra, cadela
e outros tantos
apelidos que vesti
voltemos à lupa,
te mostro um pouco mais
chega mais perto
que eu vou te contar
o quanto eu gosto
de fuder
eu gosto quando me comem devagar mas com a rola entrando inteira e, depois, saindo quase inteira mas sem nunca me deixar por completo
só a cabeça
parada ali, na entrada
eu forço um pouco a buceta tentando puxar
me enforca
e enfia tudo outra vez
e de novo
quero mais
até quero rápido
também gosto forte
mas é assim, no movimento lento, que a puta me vem - tomada de sexo, eu peço tudo e faço tudo, tudo o que você pedir.
eu gosto de quando já perdemos o prumo, nada mais importa, "fode ela que ela gosta"
gosta.
gosta mesmo.
agora, minha voz para de preencher o ar
volto à fantasia
você sentado
com a mão no pau
batendo pra mim
e para o que digo
se realmente estivesse aqui, eu iria de quatro até você
colocaria essa rola todinha na minha boca
e vez o outra
pararia pra te olhar
e perguntar
tá gostoso fuder essa boquinha, tá?
e te digo,
que faria isso
e outras coisas
até que você me enchesse de porra.
te empresto também outro spoiler,
gosto também quando acaba
quando caio para o lado
cansada
suada
e eles me olham com aquela cara, enfeitiçada
isso me faz rir
gozo e gargalhada
são dois lugares
que me fazem bem.







