quatro vermús.
é o suficiente
para me cambalear as pernas
parafrasear falas em voz alta
flertar até o calcanhar
tentar
sintetizar tudo que gosto numa só frase
sem vírgulas ou crase
abraçar as pessoas, inclusive as que desconheço
não tenho jeito
e foi isso o que ele viu
quando chegou.
eu lembro que foi ficando silêncio
só minha voz posta ao vento
uma amiga me olhou séria, mirando por cima dos meus ombros
duas mãos tapam meus olhos
o vermú me acende a língua:
javier bardem, é você?
brinco
ele ri, diz olá
eu digo
bom ver você.
ele me abraça
volto ao dia que nos conhecemos - quando nos despedimos e ele me deu um abraço demorado
ali eu sabia, que ele também me queria.
o que você está bebendo?
vermú, eu digo.
te acompanho, então.
o vejo se afastar, caminhando em direção ao bar
viro o último gole do copo e o sigo
mas não deveria.
eu não tenho jeito.

não sabia que estava na cidade.
fui ácida.
você me pediu para não te procurar.
foi áspero.
eu pedi mesmo.
dois vermús. ele pediu.
não sei se aguento,
mas me rendo.

como vai você?
tem acontecido muita coisa.
entre uma amenidade e outra
o olhar faminto resiste: ali, ao fundo, eu vejo
e desejo
também.
nossa história foi um fracasso, uma delícia, uma loucura
o vermú está subindo
assim como
minhas mãos subindo
pra tocar teu ombro - um movimento perigoso para quem está no quinto copo.
alguém chega para cumprimentá-lo
está à salvo, de mim
aproveito para sair, por aí
paro noutra roda
não sei do que falam
mas tento participar
ou só ficar, pra você não me achar.
começou tocar david crosby
music is love
agora não consigo
não romantizar
me entrego a vontade te olhar
de longe, mas perto o bastante
você olha de volta
levanta o copo
brindamos no ar
você vem vindo
eu vou indo
a gente se encontra no meio fio
eu pareço um rio
prestes a transbordar
eu quero você
ele diz, sem rodeio
me volto à música
take off your clothes and lie in the sun
essa frase sempre me pegou
vamos sair daqui?
sugiro.
amanhã vou me arrepender, mas hoje, eu vou dar pra você.

combinamos de nos encontrar na rua de trás
cheguei primeiro
minhas mãos tremiam
meu coração pulsava
o vejo dobrar a esquina
a gente sorri
somos dois adolescentes
eu ia falar algo
quando ele colocou a mão no meu pescoço
me arrancou um beijo breve, molhado, rápido, urgente
desgruda de mim
pega o celular para chamar o uber
eu pego no seu pau
só para complicar a tarefa
ele ainda lembra do endereço da minha casa - essa bobagem me deixa feliz
você vai me mandar embora depois que a gente transar?
vou.
eu quero dormir com você.
mas não vai.
dentro do carro ele segura minha mão
roço a ponta do dedo na palma
um sútil lembrete: eu quero fuder
ele coloca minha mão no seu pau
por cima do jeans, o sinto duro
ele coloca a mão na minha buceta, por cima da calça, ele me sente molhada
ninguém se mexe mas nos olhamos: nós somos cúmplices em cada decisão imprópria que tomamos juntos.
quando chegamos
subi as escadas cambaleando e ele se aproveitou da situação para segurar minha cintura
e dizer coisas como
você me deixa louco
quando entramos em casa
ele não esperou que eu trancasse a porta
me arrancava a roupa enquanto eu tentava tirar as sandálias
tentei levá-lo ao quarto
mas ele queria ali mesmo
me beijou
enfiou os dedos na minha buceta
abri a calça dele
me ajoelhei
passei a língua na cabeça do pau
olhei pra ele
imaginando que ele puxaria minha cabeça, como sempre foi, para que eu engolisse logo, inteiro
mas não
foi diferente
ficou parado
gostei
chupo teu pau
chupo suas bolas
bato seu pau no meu rosto
deliro quando te vejo abrir a boca e de lá assisto um gemido sair
te chupo até que você precise segurar o gozo
você sabe que eu gosto
ele enrosca os dedos no meu cabelo e me puxa com força
foi neste agressivo desejo, que nos quisemos
e que nos queremos
ele cospe na minha cara e espalha a saliva com a mão
eu rio porque gosto
pego sua mão e te levo para o quarto
deito na cama
toda aberta
pronta
pra você
ele se ajoelha na minha frente
puxa minhas pernas ao redor do corpo dele
me penetra
e enquanto me come
me enforca
e enquanto me enforca
eu desço a mão para tocar meu clitóris
ele tira o pau
pra me assistir
me masturbo olhando pra ele
ele se deita ao meu lado
me pede pra sentar na cara dele
eu sento
ele bate punheta enquanto eu roço a buceta na língua dele
ele sobe as duas mãos no meu quadril
me puxa para si
e me força um movimento de vai e vem mais rápido
sinto a língua dele dentro de mim
falo para ele
que tá uma delícia
que a boca dele é uma delícia
que eu estava com saudades de trepar com ele
que eu vou gozar
e quando gozo
ele não me deixa sair
me quer ali
esfrega a barba minha buceta
fala que quer ir embora com meu cheiro
me manda sentar no pau dele
eu sento
ele me puxa para perto
me lembro que já fizemos assim
ele gruda nossas bocas num selinho delicado
enquanto arregaçamos minha buceta
até que ele goze.
assim que ele goza eu me levanto
que eu já sei que não posso colocar afeto aqui.
volta pra mim
ele diz
volta pra sua esposa
eu digo









