assim que entrei no bar olhei no todo para te achar
quanto tempo não nos vemos?  um ano?
aconteceu tanta coisa
olho todas as quinas para cruzar com teu olho no caminho
enquanto perguntas do tipo
será que estou bonita?
me fazem questionar se realmente te procuro com devida atenção.

talvez 
você me encontre
talvez
eu prefira que você me encontre - é que te procurei demais
nas mensagens sem respostas
e no rosto dos homens, com quem trepo e mando embora
e até
quando me masturbava, evocava você com muita nitidez.

eis que parti,
em algum momento eu deveria mesmo ir
estava feio, para quem é dona do próprio querer
demorei para entender, que sou refém quando amo alguém
e acho que
te amei.

esse pensamento ecoou um tanto
e por um triz
decido deixar o bar
e nunca mais te encontrar, nem mexer na cicatriz
mas,
eu quero ficar.
me encosto no balcão
peço um dry martini
acho que
combina com a ocasião.


vejo você entrando
impossível não notar
sempre me chama, a tua presença.
você sorri de longe
caminhando até o balcão
tudo o que ensaiei
cai por terra
bem aqui
quando bem perto
você sorri
e diz olá.

quando uma conexão existe
quando a pele gosta
tem algo que nos puxa
não há luta alguma que leve embora
corpo tem memória
e o meu gosta do seu 
passe o tempo que passar.

você pede um manhattan
repasso a receita na cabeça
bourbon
vermouth
bitter
casca de laranja
gelo
me distraio fácil mas estou aqui
ainda sem saber o que dizer
mas com muita vontade de encostar em você.

você me conta o que tem vivido, parece um pouco tímido
eu vou ao toalete
e ao voltar
você olha meu corpo
uma série de memórias me sobrevoam - conheço este olhar
vesti meu melhor vestido 
coloquei até salto
pintei os olhos
boca vermelha pedindo 
me beija
eu vim aqui pra isso - pra tu me ver
me olha mesmo
assim me sinto a mais bela
entre todas aquelas
que você tem
guardo ingênua, essa hipótese - talvez ele goste.

qualquer amenidade dita
parece aqui, uma investida
qualquer bobagem, acompanha uma garagem de intenções
a gente se quer
dá pra ver
é uma questão de tempo - quem vai falar primeiro?

outro martini
outro manhattan
outra olhada dessa e te engulo com pressa.
estamos mais perto do que no início da conversa
e eu mal posso esperar
pra quando estiver perto o bastante, para entrar.

'eu tô louco para te beijar'
obrigada por verbalizar
queria responder de forma mais sensual
mas um sorriso me coloca em rubor - o mais sincero dos consentimentos;
meu pior tormento - não conseguir disfarçar a alegria que me dá.
você vem chegando perto
meu coração começa a acelerar
seguro teu rosto
penso na delícia que isso vai ser
e na encrenca do amanhecer
não vale a pena.

encosto o nariz na tua orelha
respiro fundo e fico ali
sua boca fala te quero
eu subo rápido os dedos e calo teu lábio com delicadeza
fecho os olhos e imagino coisas
minha roupa no chão
a buceta na sua mão
o gosto da sua saliva
o cheiro do hálito
o amargo do manhattan roçando minha língua
as pintas do seu corpo
teu gozo
eu sei onde a gente chegaria
você me comeria até de manhã



você beija os dedos que tapam sua boca
me afasto do seu pescoço gostoso mas mantenho a mão onde está
ainda não quero que diga nada
eu já transei com você aqui, em pensamento
acredite, pra mim, é tão real quanto mas muito menos perigoso.

eu me levanto
paro na frente dele
absolvo sua boca do castigo
te dou um beijo de menina, lábios colados sem pretensão de navegar
ele convida ao mergulho, duas âncoras na minha cintura 
um passo para trás
não posso mais

você sabe
que não dá.