foram muitas as garrafas de vinho que bebemos hoje
essa casa já abriga um dos grandes pontos de virada do meu destino - assim como acontece no cinema.
silenciosamente me coloco no lugar do telespectador e assisto a cena diante dos meus olhos: pessoas felizes compartilhando deliciosos pães molhados de azeite e generosas taças de vinho.
a luz da fogueira ilumina nossas faces em tons de laranja, vermelho e amarelo-quente. Reluz nas taças o tinto do vinho: que parece tão vivo quanto cada um de nós.
ainda silenciosamente agradeço estar aqui
agradeço os encontros - a vida é encontro.
do outro lado da fogueira, duas brasas me fitam - dois olhos igualmente incandescentes - como se meu silêncio ecoasse ali, do outro lado.

as maçãs do rosto dele estão rosadas e imagino que dá para sentir o calor delas se chegarmos bem perto.
tomo o último gole de vinho que restava na taça e, muito rapidamente, ele levanta a garrafa que está em suas mãos.
faço que não com a cabeça e balbucio um 'obrigada'
ele insiste
eu sorrio
e aceito.
me levanto com a taça agora cheia e me afasto da fogueira
o frio parece ainda mais frio
caminho lentamente na direção oposta do fogo e, quanto mais longe, menos som de conversa e mais som de inseto
acendo um cigarro
gosto demais das mãos ocupadas neste dueto que me parece perfeito - vinho e cigarro.
assisto a noite iluminar à sua maneira

sei que ele virá atrás de mim porque é este o sinal - eu tomo espaço para você me acompanhar.
ele demora um pouco mas vem, vinho em mãos
"tem um cigarro desse pra mim?"
ele não fuma, rs
eu gosto dessa abordagem.
"claro, até dois"
a gente olha pro céu estrelado
um acordo tímido de não se encarar ainda
mas cada vez
que o olho esbarra
eu sinto
vontade.
ele fala do frio, eu falo da noite e nas entrelinhas do que está sendo dito
eu só penso
quando é que ele vai chegar mais perto.

eu falo da casa porque ela é realmente bela em sua simplicidade
tons pastel
uma cadeira sozinha num corredor
uma chaleira descansa no balcão de madeira, faz frio
bucólico
profundo
ele me convida para conhecer dentro
me interessa
entrar

o chão de madeira anuncia nosso passos
ele me conta segredos dos móveis - veio de lá, veio dali, meu avô fez este
peço que me conte outros segredos
ele enche novamente minha taça
uma gota pinga na minha mão
ele lambe
a gente se olha
mergulho um dedo na taça
toco o vinho
toco o lábio
desenho o convite sem dizer uma palavra
ele lambe
mas não me beija
mergulha o dedo na taça
toca o vinho
toca meu queixo e escorrega o dedo até o timo, onde pousa a língua e sobe até encontrar
uma boca
que saliva.
um beijo afobado
apressado
me puxa pela cintura
amassa nossos corpos
derrubo a taça, se desfaz em cacos
pinta o chão vermelho rubi
a gente se afasta

enquanto recolhemos os cacos
sinto ele me olhar com aqueles olhos de fome
ele abandona o vidro
se levanta e puxa minha mão corredor adentro
portas fechadas pelo caminho
me pergunto qual será a nossa, qual se abrirá para nós?
uma
à esquerda
está entreaberta
e eu simplesmente sei
que é essa.
assim que entro no cômodo
ele me gruda na porta
devora minha boca
uma fome gostosa molha minha calcinha
outra fome gostosa abre o botão do jeans e desce o tecido até meus joelhos
ele se abaixa
eu seguro a maçaneta da porta
passa as costas da mão no pequeno tecido que cobre a buceta
um gemidinho me escapa
boca entreaberta
perna entreaberta
ele enfia um dedo e puxa a calcinha para o lado
olha pra mim e encaixa a cabeça onde corre água e luxúria

ele chupa como se saboreasse
sem economizar língua
saliva
suco
gosto
quanto mais ele mexe a cabeça
mais minhas pernas tremem
mais ele parece querer chupar
meu momento favorito é este da breve perda de consciência
eu não me importo onde estamos
quem é esse cara
se alguém vai entrar - eu só quero gozar na língua dele.
sinto o tremor do gozo engrandecer aos poucos - da buceta para o corpo todo
ele movimenta a língua mais rápido
sem parar
enrosco uma das pernas no seu pescoço
ele enfia mais a língua
agarro os dedos nos fios do cabelo
e aviso
que eu vou gozar
ele continua chupando
diminuindo a intensidade enquanto meu corpo dá sutis espasmos
ele vai parando
devagarzinho
buceta sensível
vermelha
pulsando
inchada
molhada
molhado também seu queixo
gostoso
ele se levanta
eu me recomponho
ele procura pela taça
bebe um gole
de gozo
de vinho
acendo um cigarro
sorrio
ele sorri de volta









