esse conto deveria começar na janela da sala,
onde você plantou uma imagem ainda não enraizada - mas que eu rego, de quando em quando,
curiosa em conhecer
a cor da flor que há de brotar dessa lembrança e,
por falar em broto
brotou aqui
a vontade de te ver.


faz assim
brota aqui em casa
do nada
me dá aquele beijo
me deixa sem jeito
sorri pra mim
tira minha roupa
me chupa
me come
me faz gozar daquele jeito
deita em cima de mim
pede pra eu te fazer uma massagem
depois pede para eu falar como vai minha vida
a gente compra umas biritas
espalha suas coisas pela minha casa
espalha seus passos neste taco
espalha seu corpo na minha cama
espalha teu sonho no meu sono
vamos escrever esse conto juntos
vamos ler as coisas que você escreveu ultimamente
eu leio também pra ti, tudo que te escrevi
ajeita minha franja
faz piada da minha cara de brava
pede para eu virar a raba pra você
enfia os dedos na minha buceta
enfia tua língua no meu peito 
me pede para sentar no seu pau
me pede para ficar de quatro
me pede para pintar o quarto
me pede para cozinhar pra você
me assiste tomar banho
conversa comigo enquanto eu lavo os cabelos
me conta uma angústia sua
me conta uma alegria também
me fala como você era antes de mim
antes de tudo aquilo
me pergunta quem eu sou agora, depois de você 
depois de tudo aquilo.
estende suas mãos sobre a mesa 
eu estendo as minhas sobre as suas
igual aquele dia

brota aqui em casa
do nada
fica bravo porque eu demorei muito para abrir - é que eu estava ajeitando o cabelo no espelho
fala que eu estou bonita
fala que sentiu saudade
fala que você sentiu vontade de vir aqui, me ver
vamos rir alto na varanda
acordar os vizinhos
andar de mãos dadas dentro de casa
só para ela ver como sentimos falta da gente
vamos transar no sofá
vamos ficar abraçados e pelados, olhando para o teto
vamos combinar alguma coisa para amanhã
e depois de amanhã
a vida toda
vamos planejar todos os dias das nossas vidas
me pede calma
me fode de novo
que eu acalmo
é que eu
te quero muito.