o drink chamava breu branco
na carta, abaixo do nome - bourbon Bulleit, vermute bianco, resina de breu branco e bitter de alcachofra
na ponta do dedo correndo sobre as pequenas letras, a possibilidade do amargo me pega
é este mesmo
que eu vou querer.

no olhar um alarde
um riso de cumplicidade.

no teu rosto a luz rosa de um lado
a luz amarela de outro
meia dúzia de verdade
meia dúzia de passado

te roubo um beijo 
como se fosse um encontro
mas é um desencontro
eu gosto da desordem
e você fala da loucura
eu gosto da possibilidade 
e você fala dos caminhos
a gente se amassa como se fosse um encontro
mas é só uma safadeza
adolescente
imprudência
cadente

eu vejo uma vontade e tento caçá-la
ente línguas e dentes; blusa enroscada na corrente
aguardente
a gente 
para
eu paro - não consigo

em casa, visito uma memória
tua mão atravessa minha nuca
você beijou meu peito antes de beijar minha boca,
lembra?
eu gostei
na cama, visito teu corpo com a mão na buceta
você me comendo no colchão de solteiro naquela noite de praia
na chama, visito outros anos
você me mandando foto pelado e eu gostando

agora te imagino aqui
lambendo meu peito, minha boca, meu cheiro
tiro seu cabelo do rosto
você tem um gosto
que eu gosto
um olho que eu gosto
um desejo que eu gosto
molhada, crio imagens que nunca existiram
você alimentou meu acervo com aquela luz roxa
e agora penso
no formato das minhas coxas num lençol de cetim bagunçado
depois de quatro
você fotografa
eu transo com as texturas da sua fantasia
e muito me anima a trama o enredo seu jeito
e muito me assusta o restante - porque eu te amo um amor que desconheço
mais sagrado do que profano

agora,
dedando a buceta
um tanto sem jeito
como quem censura a pornografia que assiste - eu assisto você me convidando para trepar
e gozo mais com a tua palavra
do que com a ideia do teu corpo
você me provoca uma vergonha
uma inocência, que só você vê
uma pureza, uma delicadeza que
que só você vê
eu queria ser perfeita
pra caber
uma só noite
na tua cama.

roçando na toalha enrolada, com um dos joelhos triangulando o relevo do travesseiro, te vejo com a perna encostada na buceta quente
vou mais pra frente
indecente o suficiente pra gozar e rir, como o diabo faria
como eu queria
fazer com você.


breu branco
o meu drink tinha uma resina
branca
uma seiva
uma árvore que goza - o símbolo nunca erra.

o símbolo, nunca
nunca erra.