quando a gente morde uma fruta e quando a gente bebe um gole de uma bebida muita quente;
quando a gente está no carro e passa numa lombada em alta velocidade, e a barriga sente frio;
o primeiro gole no vinho;
quando vou regar aquela planta da mesa de centro e sempre, sempre cai uma gota de água no mesmo lugar;
ou quando eu chego muito cansada e ligo o chuveiro - não o banho em si, mas o momento antes, girar a torneira e ouvir a água bater no chão.
quando você está deitado e passa a mão na minha lombar com pouca velocidade, e a barriga, rs, também sente frio,
cada uma dessas
e outras mais - eu trepo várias vezes ao dia porque as horas me são eróticas.
pequenos movimentos do ar em mim
pequenas sensações de vida e também do que é morto - como enternecer-se com um pássaro pousado no galho enquanto fuma um cigarro de filtro vermelho.
onde há vida, há morte e entre elas, para mim, o sexo
não falo aqui de ato sexual, eu falo sobre desejo
criatividade
ânimo
riso
energia sexual
e como ela move o existir no mundo (o meu e o seu, se você prestar a atenção).

a gente se dividiu em duas equipes, uma só tinha eu e a outra só ele
o objetivo era pegar logo tudo que a gente precisava do mercado e acabar a lista mais rápido - só para voltar para casa o quanto antes
só para que o nosso tempo juntos e à sós fosse maior.
virou uma brincadeira nossa mas ele leva muito à sério as competições.
enquanto eu tateava os tomates, nos olhávamos de longe, como se fôssemos dois desconhecidos flertando entre as verduras.
teve uma hora, que eu o olhei e aquela mão grande apertava um pêssego
senti desejo
ele leva o pêssego perto do nariz
e essa cena
nunca mais
sairia da minha memória - é daquelas, que me provoca volúpia e delicadeza.

saindo do mercado, a gente olha a mesma casa
concordamos que é a mais charmosa da rua
viramos a esquina e uma baita chuva começa a cair
ele me olha como quem diz 'vamos correr?'
eu o olho rindo como quem diz 'vamos viver?'
ele ri de volta
diz
pera aí
coloca a sacola no chão
eu não entendi nada
tira da minha mão a sacola que carrego
coloca também no chão
segura meu rosto
e me dá um beijo
que nunca mais
sairia da minha memória - é daqueles que me provoca volúpia e delicadeza.
ele deixa minha boca
e quem a toca agora é água da chuva
excitada
e apaixonada
digo pegando a sacola do chão
vamos
vamos logo
eu quero
tirar sua roupa.

a gente termina de descer a rua 
e chove forte
era março
meu tênis encharca
ele ri do descompasso - meus passos rápidos são lentos demais para suas pernas longas.

chegamos em casa
deixamos os sapatos no tapete da entrada
nossas meias marcam os pés no chão
tiramos as coisas da sacola
lado a lado de frente para a pia
eu o olho de lado
abandono a sacola para te roubar um beijo
ele abandona a sacola para tirar minha blusa

e daí, você sabe
peitos, braços, abraços, línguas
as roupas no chão da cozinha
ele abaixa minha calcinha
eu seguro seu pescoço e o agarro com as pernas
ele joga minhas costas no azulejo
lambe meu queixo
me preocupo se meu cabelo está feio demais na configuração que a chuva lhe deu
ele segura todo meu cabelo com uma mão 
eu penso
que o desejo tanto
tanto
mordo sua boca
nos olhamos fundo 
eu sabia que era uma transa diferente mas não sabia que seria a última
mas olhando daqui, tanto tempo depois, tem mesmo cara de quem se despede.

minhas pernas fraquejam e solto seu corpo 
ele me ajuda a alcançar o chão
puxando meu cabelo me vira de costas e desce as mãos para os peitos
me come
meu rosto toca o azulejo, assim, de lado
então o vejo
ele fecha os olhos e me fode em profundo silêncio
excitada, arranho o azulejo com a ponta dos dedos como se pudesse amassá-lo
ouço a chuva
e os trovões
ele me solta
do nada
'quase gozei'
pego sua mão
te levo para o sofá
me sento no seu colo
de frente
beijo sua boca muitas vezes
ele levanta minha bunda
enfia o pau
metemos gostoso
eu mexo o rabo tentando sentir seu pau em cada canto da buceta
o vejo virar um pouco o olho
paro de rebolar
ele me olha
sorrindo
ajeita minha franja
fala que me ama
passa a mão nos peitos
diz 
que não tenho defeitos
eu estava muito séria naquela tarde
ele desce o dedo até o grelo
sobe e desce, sobe e desce
eu gemo
ele chupa os mamilos
eu gemo mais
começo a rebolar um pouco
me roçar mais forte
eu tô quase lá
ele gruda de novo uma mão no cabelo
e fala baixinho:
goza olhando pra mim
eu tento dizer que vou gozar, já gozando
e antes que eu terminasse
ele também terminava
pousei a cabeça em teu ombro
ele me abraçou muito forte
dez minutos em silêncio e muitos meses separados.