a mão dele me tocava entre as pernas enquanto o carro andava
eu tentava um semblante discreto porque ninguém aqui queria que o motorista percebesse
o que fazíamos
no banco de trás
eu já queria gemer
e não poder
aumentava uma oitava acima
a vontade de meter.
nos olhávamos de lado
e eu jurava que ele sorria
mesmo sem encará-lo de frente para me certificar.
o carro parou
nós descemos
ele me deu a mão para atravessar a rua
naquela noite
eu iria para qualquer lugar que me levasse.

no hall do prédio
ele me abraça enquanto o elevador não chega
eu poderia pensar
que ele está apaixonado
mas prefiro
não pensar a respeito
eu tenho esse defeito: não sei brincar
se for para tentar
eu vou mergulhar
e eu fico 
embaixo da água
até me afogar.

dentro do elevador
ele me beija
de um jeito carinhoso
eu até sonhei com isso outro dia
mas aqui
agora
com o perfume dele tão perto do meu nariz
é bem melhor

quando entramos na casa dele
lembrei da primeira vez que pisei ali
eu podia ainda ouvir
o medo que senti
dele não gostar de mim.
mas
hoje
meu medo, é que eu não goste 
tanto assim
foi o outro
que me bagunçou
me desculpe
acho que seríamos felizes
não fosse minha tendência de gostar muito do que me destrói.

ele colocou uma música
essa música,
que nomeia este conto 
este álbum,
que fui eu quem lhe mostrou
uma singela declaração
algo como
eu penso em você.
eu também costumava pensar, amor.
amor
ele me chamou de amor essa noite
pouco antes de entrarmos no carro
não foi pensado
eu ia atravessar sem olhar para o lado
ele me segurou dizendo
cuidado amor.
fingi que não ouvi.
porque não sei ainda
se também quero chamá-lo assim.
penso no outro
como fui me meter aqui?

eu vou tirando a roupa devagar
a gente se olha dentro de um silêncio tranquilo
acho que amor é um pouco isso
silêncio tranquilo
não faço cara nem boca
não quero seduzir ninguém 
eu quero só
transar com carinho
me deito
nua
ao seu lado
alcanço seu rosto
afago sua pele
tua boca me encosta
a gente se enrosca
você risca um traço com a ponta do dedo, do queixo ao ventre
pousa o lábio próximo ao umbigo
mordisca minha pele
deita em cima de mim
me olha profundo
me descortina um mundo - e se a gente namorar?
não posso falar
alguma expectativa ele há de criar
e eu
não posso garantir
que quero ficar aqui.

do umbigo à buceta
ele desce lambendo
abrindo em mim
um desejo bonito
mas não vou conseguir gozar
ele não sabe direito
como me chupar
mas 
eu gosto mesmo assim.

peço para ele vir me comer
ele tira a roupa
vem se deitando devagar por cima de mim
seu rosto parece feliz
acho que ele
gosta mesmo de mim.
cruzamos as mãos
e os dedos todos
criamos um elo, assim eu espero
ainda te quero
eu só preciso
refinar minhas intenções
me entregar com esmero
mas ainda não dá.

preciso me concentrar
no que estamos fazendo
se não é como
se ele transasse sozinho.
ele me come devagarinho
chupa meus peitos sem pressa
fixo meu olho no teu
eu só quero saber se você percebeu
que talvez a gente se perdeu
mas eu tô aqui
insistindo
numa história que não me arranca um berro
um clamor
uma voz
pacífico demais
eu preciso de mais.

me canso,
o empurro para o lado
deitado
ele me puxa para perto
acho que queria
me comer de ladinho
ignoro
me ajoelho entre seus joelhos
engulo seu pau inteiro
uma mão apoio na sua coxa, bem perto da virilha
eu gosto de sentir os pelos molhados de saliva
você me puxa pelos cabelos
me deita de lado
me fode assim
grudado em mim.

Close enough to sip the sweetness