Eu vou me aproximando da cadeira do computador onde ele senta e me assiste errar algumas notas quase sempre
se o que gosto nesse homem é o jeito de olhar,
então sempre que olhar desse jeito, minha calcinha vai
molhar

num ato lascivo de ser mais carne do que gente, abandono o saxofone bem devagar posicionando-o delicadamente no sofá
quando gosto do prato, mastigo bem devagar
que é pra sentir o gosto e confundir
o que sou eu e o que é sabor
se me movo lentamente
lânguida
é pra ele não ter pressa – ele sempre parece estar com pressa
paro na frente dele e puxo sua cabeça no meu peito
assim sem prefácio
ele desliza a mão no tecido do vestido – cuja presença é ignorada por nós e circula um dos mamilos com a ponta dos dedos
essa roupa é a linha tênue que me divide entre imagem e ação: eu quero ficar nua logo mas adiar é mais excitante
não abro mão dessas mãos deixando um rastro grosseiro na epiderme, depois, sei eu que revisitaria essa parte várias vezes
sozinha
na minha cama

me vira de costas num movimento só
levanta o vestido
puxa a calcinha com força para baixo
quase seria agressivo – fome se deixando ser fome e,
é por isso que eu gosto
porque me arranca um gemido que pede pra esse homem fazer o que quiser
comigo

me vira de frente enfia os dedos dentro da buceta e olha pra mim
me tem na mão
ele sabe
assiste escorrer pela virilha o tesão que me transborda
tira os dedos e enfia na boca
bebe da minha água e sorri pra mim com essa cara de madrugada
desço as alças do vestido e mostro os seios que é pra ser toda sua de uma vez

me viro e sento no colo – onde eu queria desde o início
esfrego a bunda por cima do seu shorts
é aquela coisa das costas
de sentir sua respiração no centro da coluna e revirar os olhos
eu pararia aqui
porque sexo bom pra mim é em parte só isso: a parte que a lucidez dá lugar para o sentir e a gente se deixa enlouquecer
o descontrole me interessa
segura meus peitos e me puxa para si, a pele das minhas costas
encosta
na pele do seu peito
e é isso
é isso que eu vim fazer aqui.