nem sempre foi bom,
o desejo também te sufocava

refém do próprio prazer, ela nunca parava de buscar aquela sensação
e todo excesso
intoxica
na mesma proporção
que satisfaz.

ela lia sobre pecado,
mordeu a língua antes de fechar o livro
sentiu o gosto do sangue
riu de si
olhou-se na tela do celular
pôde ler estampado na cara
algo como
ninguém precisa gostar
sentiu-se só
mas as ausências eram familiares (ou eram de família?)
o que ela queria, era simples - alguém que amasse também o fogo
caminhava pela rua como se tivesse feito algo errado
todos os dias
o peso de um crime não cometeu - por que tão severa a punição por gostar de transar
com quase todo mundo?
comprou flores na banca pra enfeitar a mesa
em algum lugar
acreditava que a delicadeza era necessária para redenção de sua luxúria

chegou em casa
abandonou os sapatos na entrada
jogou a bolsa no chão
sentiu o piso tocar os pés
foi até a cozinha e preencheu o vaso com água
mergulhou as flores
afastou os papéis, canetas, boletos da superfície de madeira
e ali,
abriu um espaço
para aquelas vidas
esperando, belas, pela morte

ouviu uma voz chamá-la
lembrou que não estava sozinha em casa e ficou um pouco irritada
ainda era difícil dividir seu espaço com alguém
que nem se quer, morava ali
mas ali vivia
não sabia dizer se estavam namorando, e muito menos se era o que queria
só sabia
que ele estava ali.
bom dia!
bom dia.
ele a abraçava por trás e parecia mais confortável assim - não precisava olhar nos olhos
sentiu que ele estava excitado
e ela ainda pensava na vida roubada das flores-enfeite
ele passava a mão pelo seu corpo
tentando acordá-la para o sexo
geralmente
ela gostava.
enquanto ele a tocava
ela encarava o miolo das flores
como se fossem olhos que a vissem de volta
ele puxou o grampo dos seus cabelos para vê-los caírem pelos ombros
ela ficou mais excitada com o toque suave dos fios na pele
do que pela insistência
daquelas mãos
famintas

ele beijou sua nuca
suas costas
desceu
tirou-lhe as calças
beijou a bunda
a buceta
ouviu um gemido
desceu mais
lambeu suas pernas
ela apoiava as duas palmas na mesa
entre elas, o vaso
entre suas pernas, o homem

ele se levanta e coloca ela sentada na mesa
ajoelha-se
e beija-lhe os pés
chupa cada um dos dedos
desliza a mão do calcanhar até a superfície, pressionando o centro do pé
ela puxa,
num reflexo da cócega
mas ele segura com força
e agora, finalmente, ela se excita
ele olha o pé molhado de saliva
pega o pau
bate uma punheta
ela une os pés ao redor da rola dura
sobe e desce
ele não consegue parar de olhar o movimento dos pés
ela esfrega a buceta na mesa

ele pega os pés dela e puxa para cima
empurra os boletos para o chão e afasta o vaso
ela deita as costas na mesa
ele segura cada pé com uma mão
mete o pau nela
ela geme
ele aperta mais os pés
o barulho da mesa oscilando no chão
a excita
ela faz um biquinho
ele solta um pé e desce a alça da blusa
um peito fica pra fora
ele bate no peito e belisca o mamilo
ela apoia os pés no peito dele
ele quase goza
então tira o pau
afoga a cara na buceta dela
enquanto os pés, agora, raspam nas suas costas
ele ainda pensa nos pés
ela agora sente prazer
e quase esboça um sorriso
ele gosta de vê-la assim - aberta, gemendo, desajeitada em cima da mesa
ele desce e sobe a língua no clitóris enquanto assiste ela encontrar o orgasmo
ele enfia um dos dedos
ela se movimenta para frente e para trás
a mesa agora faz mais barulho
ela avisa que vai gozar
ele entra e sai com o dedo e a língua, nunca para
ela começa a gemer mais alto
mais alto
mais alto
o vaso cai
ela goza
ele se levanta e pega de novo o pau
se masturba e, fitando os pés
imagina os pés gozados
e aquilo
o excita
ele segura os pés juntos, tornozelo com tornozelo
ela mexe os pés devagarinho
como se pedisse pra ele encharcá-los
e esse movimento
o faz gemer
ele goza e assiste a porra escorrer entre os dedos.

ela se levanta
ainda sem dizer uma palavra, procura outro vaso
ele ainda está imóvel,
sentado na cadeira da mesa onde acabou de comer, assiste os pés gozados pisarem nos cacos enquanto ela tenta resgatar as flores.
satisfeita com as flores salvas - ironicamente salvas, já que suas vidas estão fadadas à efemeridade do tempo
assim como nós - isso a deixou mais aliviada.
olhava as pétalas ainda vívidas
pensava naquele homem obcecado por seus pés
duvidava ainda
de que o queria
ele pediu que pisasse nele
ela pediu que fosse embora.










