teu olho me olha na linha d'água, na linha da água da piscina
nariz afogado, olhar trocado, cada um de um lado
reflete azul no teu rosto, no meu rosto
você faz um nado
me viro de lado
você vem chegando
eu vou afundando,
procurando desencontro, encontro tua mão nadando para me achar
sinto a palma na minha cintura
me entusiasma o contato com a ossatura
eu não tenho postura
para me comportar 
como se deve. como disseram que se deve.

estou sentada na mesa
com os pés na terra
shorts jeans
a parte de cima do biquíni
acabei de sair da piscina
na piscina, flertei com alguém
foi o vinho branco que subiu
no sol
voltei para a mesa, de onde te escrevo
escrevia à mão
uma vontade
que você estivesse também na piscina
também me olhando
também encostando em mim "por acaso", um esbarrar proposital e irônico.

escrevi também que te quis ontem
debaixo da água quente
seu peito colado nas minhas costas
sua mão quente nos meus peitos
sua língua quente na minha nuca
nossos corpos flutuando na água
um céu que assiste este luxo
você me arrasta até a borda
apoio os cotovelos na superfície da pedra, deixando a bunda toda pra você
você desce o biquíni
passa a língua
água e saliva se misturam
meus mamilos raspam na pedra
me excita
eu gemo
você me chupa 
eu gemo mais
você se levanta
passa a cabeça do pau na minha buceta
eu quero muito o momento seguinte - quando você entra em mim e me arranca uma embocadura de prazer
um lábio frouxo 
de quem se curva à luxuria
de quem mergulha na devassidão
o estado da concupiscência 
da volúpia
me atrai
me seduz
e me destrói.

a pedra fria contrasta com a água quente 
minha pele sente
um calafrio, uma calidez
uma abreviatura do que nosso avesso diz
você entra e sai
contraio e solto a vulva, prendo e solto seu pau pra te sentir inteiro
queria gozar olhando teu rosto
te peço
você me vira de frente
me senta na pedra
me abre as pernas
bebe das águas termas do meu ventre
encontra o clitóris
e antes que entre
me sente
se lambuza de mim
me deixa louca, me cobre de languidez
escorrego pela pedra e afundo na água
teu corpo rente ao meu
teu olho rente ao meu
abro as pernas para te receber
você me segura
me soca forte a rola
me pressiona contra a pedra
arranho suas costas
me sirvo em postas pra você
te deixo comer
te deixo enlouquecer
eu sou uma leoa quando gozo até desfalecer.

me entorpece o transe, a transa
me atormenta a tardança desse encontro
demora não, que eu me canso
me lanço em outro braço, busco autoconfiança noutra cama
derramo-me em corpos rasos
eles não entendem meu desejo abstrato
e ainda assim, 
vez ou outra me apaixono
sobreponho os homens
como se um encobrisse a dor que o outro me causa
o afeto é uma dança que prefiro dançar só
mas pra ti, empresto um pedaço do buraco que eu sou.
não te peço nada em troca:
só me devolve
risco em papel-carbono,
qualquer coisa bonita:
me deixa eternizar também a sua partida.