Gozou, chorou? Calma, tá tudo bem.

primeiro a gente sente um calor pequenino – o fogo do fósforo queima tanto quanto o da fogueira, não é o tamanho do fogo que determina o início do incêndio, certo? – depois a gente deixa ele tomar espaço até que sejamos mais calor do que corpo e daí, o descontrole e daí, o gozo. e depois?

e depois há quem diga que por onde o fogo passou, tudo escureceu. depois do ápice, uma tristeza toma o lugar que era o da satisfação plena. vamos falar sobre chorar depois de gozar? não engole o choro e vem comigo.

diversas mulheres afirmam chorar ou ter crises de riso após alcançar o ápice da relação sexual – o orgasmo – e é absolutamente normal o corpo responder dessas formas opostas mas igualmente intensas.

existe um fundo fisiológico

A liberação intensa de hormônios pode ocasionar alterações de comportamento típicas de um descontrole psíquico transitório, como crises de riso, falar palavrões ou até mesmo, a disforia pós-orgasmo – que em alguns homens mas principalmente nas mulheres, apresenta choro e tristeza pós sexo.

Na terceira fase do ciclo de resposta sexual que é o orgasmo, nosso corpo libera uma quantidade alta de hormônios que deixarão nossos sentimentos desordenados. A hipótese levantada é que o excesso dessas substâncias possa promover o efeito contrário quando os efeitos positivos terminam, causando disforia.

Os hormônios liberados em grande quantidade no ápice do prazer sexual são: endorfina (sensação de bem estar, risos e reações de euforia), adrenalina e noradrenalina (batimentos cardíacos acelerados), ocitocina (contração uterina), estradiol e andrógeno são responsáveis por maior vascularização vaginal e lubrificação.

Essa sensação é mais comum do que pensamos: em 2015 foi realizada uma pesquisa, na Austrália, em que de todas as mulheres entrevistadas, 46% afirmaram ter sentido, ao menos uma vez na vida, essa sensação de tristeza e vontade de chorar após o sexo. Mas apenas 2% dessas mulheres tiveram essa sensação com frequência ou sempre que tinham uma relação sexual.

existe um fundo sociológico

Não se pode diminuir a influência social da depressão pós-sexo. Fatores como educação familiar muito rígida, contextos familiar e cultural e a religião seguida pelo indivíduo podem ter um peso significativo, pois algumas pessoas sentem culpa ou frustração após o sexo devido a pressões morais oriundas das influências citadas. Fatores psicológicos também precisam ser levados em conta, como abusos sexuais sofridos no passado, inseguranças, desequilíbrios neuroquímicos e hormonais e até uma avaliação negativa sobre o próprio desempenho na cama.

nosso corpo possui razões que a própria razão desconhece

Uma outra pesquisa, publicada em 2017 por profissionais norte-americanos no "Sexual Medicine Reviews", mostra que o choro e o riso, antes ou durante o ato sexual, são fenômenos periorgásmicos normais —a lista inclui ainda a catalepsia (perda temporária de sensibilidade e do movimento), dor facial ou no ouvido, coceira, crise de pânico, crises convulsivas e até espirros.

Em geral, nas mulheres o problema está relacionado à cultura, não somos educadas para sentir prazer e por isso muitas de nós desenvolvemos o receio de se entregar ou perder o controle na hora do sexo. Quando isso acontece, vem a culpa.

Em compensação, nos homens o choro ou a tristeza depois das relações geralmente está atrelado ao sentimento de vazio. Alguns relatam sentir insatisfação logo após o sexo, como se 'estivesse faltando alguma coisa', principalmente quando não se permitem dar ou receber afeto.

A mestre em psicologia e especialista da plataforma Sexo Sem Dúvida, Carolina Freitas, alerta que, durante a pandemia - por conta do isolamento social - as chances de o choro aparecer aumentaram: "É uma situação atípica e que mexe com a libido. Algumas pessoas têm o desejo sexual elevado durante o período. Outras não conseguem pensar em sexo. E muitas intercalam períodos de mais ou menos desejo, dependendo de como estão encarando o cenário geral".

O psiquiatra Richard Friedman, que relaciona esse sentimento de tristeza e vulnerabilidade com a atividade da amígdala cerebral - uma área do cérebro que regula emoções como medo, angústia e ansiedade - descobriu que sua atividade praticamente desaparece durante o sexo. Sua hipótese é que a reativação dessa área após o orgasmo traz de volta a angústia. Ou seja, o sexo inibe o vínculo das pessoas com seus problemas e medos por alguns instantes. Algo como as férias e a síndrome pós-férias que muitos experimentam depois de voltar ao trabalho.

Já a sexóloga e psicóloga Gloria Arancibia Clavel enfatiza mais os aspectos psicológicos ao falar sobre esse fenômeno: “Dar nome a uma coisa já é sinônimo de patologização, e eu não acho que seja um problema que afete a maioria das pessoas. Poucas pessoas comentam sobre isso durante a consulta. Outra coisa que me incomoda é o adjetivo pós-coital, que coloca a penetração como elemento central e já sabemos que uma relação sexual não precisa necessariamente incluí-la. Também não se sabe se os estudos levaram em consideração homossexuais e bissexuais; e, para terminar, experimentar certa tristeza ou emoção não precisa ser algo negativo. Pode induzir à reflexão ou introspecção. Pessoalmente, acredito que o lado hormonal, embora exista, afeta muito pouco e que as causas são mais culturais ou psicológicas. Com exceção, é claro, de quem sofreu abuso sexual, mas isso seria porque já existe um trauma anterior.”

A tristeza pós-sexo pode ter muitas explicações, embora não seja um assunto que tenha suscitado o interesse da ciência – que sempre focou nas preliminares e no ato sexual, o pós sexo em si, nunca foi devidamente destrinchado mas, logo farei uma matéria somente sobre isso, aguardem!

a pequena morte

Os franceses se referem ao orgasmo como “la petite mort” - a pequena morte – é uma breve perda ou enfraquecimento da consciência, que é a sensação que se tem durante o orgasmo e nos instantes seguintes. É como se ao gozar o indivíduo morresse, "fosse ao céu", experimentasse a beatitude e depois retornasse à vida. A equivalência dos termos "morte" e "orgasmo" clarifica até mesmo a noção cristã de Eternidade, "ir para o céu", para o cristão, seria a consequência e desfecho de um infinito ato de amor.

Essa que vos escreve é extremamente dada às belezas e, particularmente, acho essa expressão francesa poeticamente carregada de verdade: aquela breve perda de consciência não deixa de ser uma morte pequenina, um hiato entre tempo e espaço. Abraçar a emoção que vier à tona faz parte da nudez – transar é sobretudo despir-se das performances. É o que é: entrega.

Depois de morrer é preciso dar vazão aos sentimentos. se o choro lhe subir aos olhos, chore.


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