amorosamente, a gente se despede.

este é o meu último texto para este blog.

teve muita coisa nossa, né Exclusiva Sex Shop?


quisera eu a liberdade de não ter vivido essa história - a minha.

quando eu entrei na Exclusiva, estava vivendo um intenso processo de dor e agonia. fazia apenas alguns meses de uma separação dolorosa, havia uma herança constante de um relacionamento abusivo que me proporcionou traumas nada tranquilos. começar a trabalhar aqui, foi, sobretudo, um convite de vida melhor. uma oportunidade de me reconhecer em alguma coisa, de olhar para as coisas que escrevo de uma maneira mais séria e menos despojada - era preciso rigor, era preciso estrutura, era preciso referência. coisas que ainda que eu já as tivesse, andavam bastante afrouxadas, tal qual minha relação comigo mesma.
nada é por acaso e escrever sobre sexo era justamente o que eu precisava naquele momento. dentre as dores que carrego, muitas delas são provenientes de abusos sexuais e cada texto que escrevi, me fez visitar de novo esses terrenos abandonados do meu subconsciente. no começo foi difícil, houve muita terapia. mas, sem dúvida, o que fazia aqui, potencializava o que a psicanálise fazia de lá. 

nos primeiros dias de trabalho, escrevi isso daqui e deixei o arquivo salvo na área de trabalho do computador, como um lembrete:

"passo muito tempo estudando o desejo escrevendo o desejo sentindo desejo.
penso o querer o prazer o delírio o grito o gozo o corpo.
montei um organograma, um cronograma, uma planilha - uma tentativa desesperada de organizar as idéias os saberes os conteúdos todos, tantos – talvez seja mais como um mapa confuso como quem vê pela primeira vez o mapa das linhas do metrô e da cptm e me perdi como quem se perde pela primeira vez nas baldeações.
me preocupo muito em não falar bobagem, ser um desserviço para lutas importantes das quais eu não conheço tão profundamente – eu tenho medo do público e preciso escrever para o público demoro a publicar releio as matérias prontas de novo e de novo e sempre na última linha – quando vejo meu nome posto ali – um tremor floresce no meu corpo esse corpo que pensa o corpo e não consegue compreender o próprio.
sempre parece faltar algo sobrar algo e daí o mapa e olhando pra ele exausta me pergunto se sou a pessoa certa para falar de desejo porque, veja bem, como posso se eu mesma passo quase o tempo todo driblando o meu?
rostos de professores e amigos ficam postos nessa aflição, tenho voltado duas casas todos os dias em cada tema que escolho para discorrer sobre.
tento traçar uma combinação entre história-psicanálise-arte-literatura-notícias-dados e até o tarot tem entrado nessa dança com a pesquisa – tem noites que minha cabeça parece que vai explodir, pane em alguma linha da cptm mas em qual?
de novo olho o mapa e está ali no arcano XI (os amantes): onde há medo, há desejo. profundamente amedrontada e desejosa de ser a redatora que me propus ser.
socorro"

acho que isso diz muito sobre o que é pra mim encerrar este ciclo, não é simples!

trabalhar aqui me trouxe uma autoestima potente, uma relação de confiança com a minha escrita, um aprendizado importante sobre aberturas, sobre novas relações, sobre estabilidade e sobre o valor do desejo. pouco tempo depois, mais precisamente, 10 meses, eu quis explorar meu texto até a última gota, existia um vulcão em mim, uma sede gigantesca de descobrir tudo que eu poderia fazer com as palavras que me rodeavam tanto. parecia, naquele momento, que eu sabia exatamente onde elas precisavam ser colocadas - elas estavam tão cheias de mim. tudo me transbordava. foi bonito demais. 
eu comecei a escrever para três lugares distintos, e ainda encontrava tempo para produzir alguns eventos, e acredite se quiser, ainda cabia em minha rotina, amar o destino. por dois anos, eu trabalhei para cinco empresas. eram nove chefes. nove pessoas que eu queria muito que gostassem do meu trabalho. nove pessoas que estavam constantemente no meu radar e eu, cansativamente tentando ser impecável. rs.
pouco depois, entendi que era muito, abandonei os eventos, foquei nos contos e nos vinhos. quando alguém por aí me perguntava o que eu fazia, minha boca se enchia de orgulho "eu escrevo conteúdos eróticos para a Exclusiva Sex Shop e sobre vinhos para a Família Kogan, Tão Longe Tão Perto e Vinhos de Combate", sexo e vinho foram meus principais objetos de estudo até aqui. e experimentar ambos de várias formas pensando nas minhas pesquisas, foi delicioso e muito libertador. 

foi muito bonito sair do fundo do poço direto para a torre do castelo.

ano passado, acho que tive um burnout, isso mesmo. o clichê de nossos tempos. colapsei. 
uma exaustão se arrastava e esse cansaço não era só pela minha escolha de trabalhar excessivamente, eu gostava da andança. cada dia num lugar, cada dia num tema, cada dia numa noite. eu estava realmente feliz mas percebia a negligência com o que engavetava.
ano passado, também tive um diagnóstico de paixão, isso mesmo. o clichê dos poetas. morrer de amor.
gatilhos, medo de uma nova relação, medo de cair no mesmo buraco que há pouco tinha saído e muito ferida. é inevitável: o amor encontra a gente. é também inevitável: o medo encontra a gente.
eis que, paixão e burnout, juntos, causaram um estrago por aqui.
eu estou bem, tudo está agora, em seu devido lugar.
há algum tempo que não sou mais a mesma, que deixei de ocupar alguns espaços, que me retraí um pouco. acho que tem a ver com os meus excessos internos, em algum momento, eu tinha pouco para dar e forçosamente estava tentando ainda me encaixar, mas, a verdade é que todos nós precisamos nos reinventar de vez em quando (comigo acontece quase que o tempo todo, rs).

chegou um momento importante para nós, Exclusiva e eu, uma necessidade de outros caminhos, para eles e para mim. comigo eu levo tudo que esse blog foi e é pra mim - o que está nele e o que não está - os tantos processos criativos, as tantas conversas sobre as pautas, dias e dias deixando marinar uma matéria que eu queria escrever mas me sentia crua para tal, a busca incessante por falar somente com propriedade, a preocupação da informação em tempos de especialistas em todos os assuntos, fake news e chat gpt. eu tenho muito orgulho de ter me comprometido de verdade com isso aqui, sem passar por cima de ninguém, sem ofender ninguém, sem que não fosse com os passos eu podia dar sozinha. tenho em mim muito amor pelo que construímos juntos aqui.

eu fui muito apaixonada por tudo isso.

ah, eu ainda sou. 

a atração por tudo que é erótico sempre esteve presente, comecei escrever contos muitos anos antes de tudo isso, aqui tem um texto que fala muito sobre o processo criativo dos meus contos eróticos. porém, depois dessa longa jornada, muita gente lendo e comentando, tudo fora ampliado em mim, claro. 
seguirei escrevendo muito e sempre mas agora, os contos eróticos voltam a ser só meus. 

todo esse hiato desbravador não teria sido possível sem o Paulinho Gentile, nosso chefe aqui no marketing da Exclusiva. ele me deu muito espaço para criar, para desenvolver e para voar além daqui (literalmente). eu te agradeço imensamente pela confiança.
Camila, Tico e Seu Paulo, meus outros chefes, todos sempre muito humanos, queridos e generosos. Aline, que viu coisas em mim e me forçou puxá-las para fora dessa profundeza que sou. Denise, que trouxe uma doçura de menina pra minha vida, que ouviu minhas histórias por muito tempo só porque sabia que eu precisava falar - você, De, foi muito importante no meu processo de cura e eu agradeço muito pela troca que tivemos, sempre guardada num lugar especial.
Marcela, Ale, Wollace, Ana, Thuanny, Karol e Roger, equipe de marketing que dá o sangue aqui, eu admiro vocês. A equipe do setor do cadastro, com quem estive bem próxima em algum período, a boniteza que é ver um time evoluir, a Anna é preciosa, ela vai longe, eu tenho certeza.

amorosamente, a gente se despede.

foi um prazer escrever para você, Exclusiva Sex. e para você, que me lê.
foi uma delícia, foi divertido, foi sexy.

eu desejo uma vida longa para este blog, uma vida longa para a Exclusiva Sex, que já caminha há muitos anos dentro deste mercado levando, prazer e saúde sexual para muita gente.

Escrito por :

Cinthia Morelatto

Cinthia Morelatto
Eu poderia ser sommelier de pão de queijo ou algo tipo Marie Kondo. Mas a palavra é meu lugar, então escrevo: redatora, copywriter, roteirista e canhota. Coloco ideias no papel e as tiro de lá com muita facilidade: fui produtora por doze anos, fazer acontecer é comigo mesma. Cinema, teatro, shows, eventos e entre um e outro tirava o caderninho da bolsa e me debruçava na poesia e nos contos eróticos – agora me concentro em saber tudo o que não sei para esse blog funcionar.
1 Comentários
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Xavier

Que linda história e trajetória. Sentiremos muito sua falta Cinthia. Tenho a certeza que novas altitudes ou novas oitavas a aguardam, porque sempre devemos abrir mão do bom pra abrir espaço ao extraordinário. Porque é isso que tu é, extraordinária!
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