você está aí escolhendo o vibrador que mais te agrada, plena e livre, rolando o site de cima a baixo, entretida com cores, formatos e funções. Já pensou como é que tudo isso começa? As lojas, os sites, as ofertas, a compra online, tudo – tudo que conhecemos hoje sobre o mercado erótico e produtos de sex shop, é a consequência de uma movimentação feita por Beate Ushe. É ela, lá em 1962, que vai abrir a primeira loja de sex shop do mundo. É ela que vai abrir um espaço para que hoje a gente compre um vibrador clitoriano em várias parcelas no cartão de crédito.
as necessidades do corpo sempre estiveram presentes e a investigação das preferências deste corpo era um tabu gigantesco. Beate foi a mulher que tirou o sexo das gavetas do quarto e colocou na vitrine. Isso, numa época em que mulheres não falavam abertamente de sexualidade, e muito menos de seus aspectos prazerosos.
Quem foi Beate?
Criada com valores liberais, sua mãe foi uma das primeiras médicas da Alemanha e por isso métodos de contracepção era um assunto familiar. Beate se dedicou à paixão por voar e foi piloto de avião até o final da Segunda Guerra Mundial, onde perdeu também seu primeiro marido.
Viúva, mãe e desempregada, começou a vender produtos em domicílio, ficou amiga das donas de casa e criou algum vínculo com a clientela – essas mulheres reclamavam de seus maridos, que voltavam da guerra sedentos por sexo e, acabam engravidando (com a depressão do pós guerra a gravidez comumente era interrompida).
Beate preparou uma brochura explicando um método contraceptivo, a fim de ajudar as mulheres a identificarem seus dias férteis e inférteis. "Não era seguro, mas era melhor do que nada", diria depois. Passou a vender preservativos e livretos sobre "higiene conjugal" – um termo um tanto careta usado para nomear a vida sexual dos casais. Em dois anos já havia vendido trinta e dois mil exemplares. A firma cresceu rápido e anos mais tarde já contava com dezenas de funcionários.
A primeira loja Sex Shop
Em 1962, Beate abre a primeira loja de sex shop do mundo em Flensburg. Junto à loja também foi aberto um espaço importante para a mulher e o desfrute do prazer e cá estamos, colecionando sex toys!
Quando a pornografia foi legalizada no país, em 1975, Beate Uhse também passou a vender fitas de videocassete e a distribuir filmes. Disseminar a pornografia ia na contra mão de sua movimentação até então revolucionária para as mulheres (objetificação da mulher e etc). Sua biógrafa, Katrin Rönicke, chegou a mencionar que desconfiava que Beate não se importava muito com a emancipação das mulheres, mas independente da contradição comportamental de Beate, o que trago aqui é na verdade uma perspectiva do erotismo à partir de Beate e como sua movimentação beneficiou a pauta erótica.
Pessoalmente, não há dúvida que ela foi uma mulher emancipada, marcando seu espaço em setores de dominação masculina como a pilotagem e a fundação de empresas. Sem dúvida ela contribuiu para popularizar temas tabu. Enquanto os homens tinham pleno acesso à sexualidade dentro de bordéis, o mesmo conhecimento não era permitido às mulheres – que casavam virgens ainda e eram proibidas de sentir prazer durante a relação sexual.
A sexualidade feminina era tão inexplorada que, até o século XX, o orgasmo feminino ainda era desconhecido. Nesse período, a medicina e a psicologia começaram a se aprofundar nesse estudo.
O que acho importante sobretudo, é que entre Beate e a criação da primeira loja de sex shop o que se estabelece é uma comunicação entre mulheres e essa é a potência dessa história: o estabelecimento de uma linguagem entre a mulher e seu corpo que é absolutamente pessoal e intransferível.
Informações reunidas, pesquisas postas à mesa, tento tecer uma fluência entre a mulher que criou a sex shop, a clientela de Beate e eu e você – porque penso que em cada mulher há um pouco das duas.
Beate não é interessante por lucrar com o mercado erótico – embora isso seja sim motivo de reconhecimento. Beate é interessante porque cria uma abertura ao diálogo, não, melhor: porque cria a possibilidade de uma mulher dialogar com seu corpo. E depois outra mulher. E outra e outra. E você e eu e as que virão.
Seguimos até aqui uma a uma investigando nossos mistérios sob a luz dos anos passando cada vez mais rápido.
A mulher que entende a língua de seu desejo é o que sempre esteve no cerne dessa moralidade duvidosa que historicamente nos reprime. O silêncio do prazer feminino fadado à reprodução – tem a ver com um formato político que controla o corpo feminino e esse é um assunto bem mais explorado atualmente (ainda bem).
Então você, aí, já pensou que se não fosse Beate talvez não conheceria um brinquedinho com várias intensidades de vibração? Eu hein, obrigada Beate Ushe!

Crédito: Wikimedia Commons
Fontes:
https://www.consumidormoderno.com.br/2017/01/21/um-mercado-em-revolucao-e evolucao/
https://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/mercado/25928/mercado-erotico-se aperfeicoa-em-marketing-e-fatura-r-1-bilhao.html
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/historia-orgasmos-e conhecimento-primeira-sex-shop-foi-criada-por-uma-mulher.phtml
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2019/10/25/beate-uhse-a-mulher por-tras-da-primeira-sex-shop-do-mundo.htm
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2018/06/14/15-fatos-curiosos-sobre-a historia-das-sex-shops.htm
https://medium.com/@tosi.marcela
https://peita.me/blogs/news/os-usos-do-erotico-o-erotico-como-poder-por-audre-lorde
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